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Entrevista Exclusiva - Artur Casaca

Exclusivo do Site Nacional de Skate


INTRODUÇÃO


Em 30 anos de atividade a nível nacional, o Skater Artur Casaca, foi responsável pela construção de rampas, realização de campeonatos e demonstrações, publicação de uma revista de skate durante anos nas bancas, entre outras coisas que contribuíram substancialmente para o desenvolvimento do skate e não só. Marcou a história do skate

Português e o Site Nacional de Skate partilha uma entrevista exclusiva que lhe fez.

AGRADECIMENTOS:

  • Ao Artur Georgio Casaca, pelo seu grande contributo que deu ao skate em Portugal, pela entrevista que aceitou nos dar e pelos conteúdos históricos que nos disponibilizou.

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Entrevista a Artur Casaca

Site Nacional Skate: Para quem não te conhece, apresenta-te e diz-nos o teu nome e de que zona do país és.


Artur: O meu nome é Artur Casaca e sou um Skater Scalabitano. Ou seja, sou de Santarém.


Site Nacional Skate: Há quanto tempo andas de Skate e qual a tua ligação ao mesmo?


Artur: Ando de skate desde os 8 anos de idade. Uma Tia trouxe-me um skate da Suíça numa altura em que ainda não se viam por cá e foi, como se diz, paixão à primeira vista. Tenho, hoje, 45 anos. Apesar da minha vida profissional atual não me permitir dedicar o tempo que dediquei outrora, sempre que posso, ando. Não considero o skate um desporto propriamente dito.

Costumo dizer que o skate é skate. Esta é a minha atividade de eleição. Como todos os apaixonados pelo skate, acompanho e vibro diariamente pelas redes sociais.


Site Nacional Skate: Como era o skate em Portugal na altura que começaste a andar?


Artur: Quando comecei a andar de skate, tinha apenas amigos com carrinhos de rolamentos e fazíamos descidas em sítios diferentes. Entretanto, o material de skate que era de difícil acesso, começou a ser importado para algumas lojas. Começam a surgir nas bancas revistas brasileiras e americanas e surgiu um filme que, a meu ver, teve um grande impacto. Falo do “Trashin’ - os Loucos do Skate”.

Se já adorava andar de skate, quando vi esse filme fiquei siderado e a paixão cresceu em larga medida. Não fui o único a ser impactado pelo mesmo e considero-o, ainda hoje em dia, uma referência porque captura que o skate é mais do que um desporto - tem uma cultura e atitude própria. Interseta-se com o universo da arte e da música. É difícil explanar por palavras. Vive-se e sente-se.

Por volta dos meus 10 anos comecei a desfrutar de um pouco mais de liberdade em relação aos meus pais e o skate levou-me a estabelecer novas amizades e a realizar viagens de norte a sul do país. Durante as férias que passava em Albufeira, cheguei a andar com Skaters de grande nível no histórico skate parque da Quinta da Balaia que só através do vosso site descobri que foi o primeiro skate parque em Portugal. Só de descrever isto, ocorrem-me memórias fulgurantes.

Site Nacional Skate: A revista Difere que lançaste marcou e agora voltou a ser falada. Conta-nos o teu percurso profissional no skate e o que te levou a lançares a mesma.


Artur: Aos 16 anos de idade estudava desporto e tive a sorte de ter um Professor que

simultaneamente cooperava com o desporto da minha cidade. Propus-lhe realizar um

campeonato de skate de âmbito nacional com rampas construídas por mim.

Ele aceitou e comecei a construir rampas de skate e a convidar amigos. Esse primeiro campeonato foi um sucesso porque mobilizou Skaters de norte a sul e os principais meios de comunicação social (televisões, rádio e imprensa). Depois do mesmo, construí vários conjuntos de rampas e percorri Portugal de norte a sul a dar demonstrações e a realizar mais campeonatos. Em paralelo, e após a realização desse campeonato que foi de âmbito nacional, também ajudei a comercializar material de skate a nível nacional que era pouco distribuído. Esta ação também foi muito positiva. Só parei quando lancei a revista, pois eticamente poderia haver conflitos de interesses com lojas e anunciantes.

Orgulho-me de ter contribuído muito para a dinamização e promoção do skate, sobretudo numa altura difícil pois escasseavam rampas, material profissional e era mal visto. Nessa altura os Skaters andavam principalmente nas ruas e tinham códigos de indumentária como calças muito largas e gorros. Hoje é algo mais comum e aceite, mas na altura não. Éramos olhados de lado e considerados marginais. Ainda me recordo de entrar num consultório e o médico questionar-me porque é que nós, Skaters, nos vestíamos assim. Depois de dizer isso, afastou a sua secretária e pediu-me para fazer ali mesmo «uma daquelas manobras em que o skate dá voltas no ar». Penso que o contacto e o grande interesse que tinha por revistas de skate contribuiu muito também para realizar o sonho de lançar uma revista de skate, que lancei - durante anos - entre 6 a 8 mil exemplares por edição, nas bancas em Portugal.


Site Nacional de Skate: Fala-nos mais da Difere e dessa época.


Artur: Sempre tive paixão por fotografar skate e isso motivou-me bastante a não só contribuir para o desenvolvimento do skate com a construção de rampas ou competições.

Antes do nome Difere a revista

chamava-se Toast e tal como o vosso site se posiciona como o Site Nacional de Skate, a revista também se posicionava assim, em subtítulo de capa: Revista Nacional de Skate. Devia ter, na altura, uns vinte e poucos anos de idade. Foi um projeto muito difícil de lançar e viabilizar a cada número, mas a motivação era de facto muita e era satisfatório aferir que estávamos a contribuir para a dinamização do skate. Tínhamos assinantes e leitores de norte a sul do país, assim como das ilhas, que nos davam muito apoio. Sentíamos conexão com os leitores. Na minha primeira visita à Madeira, por exemplo, ao mencionar os meus planos de viagem, alguns manifestaram interesse em se encontrar comigo e, generosamente, apresentaram-me às suas famílias. Havia uma comunidade de Skaters que confluía. Ainda hoje recebo mensagens efusivas de antigos leitores que dizem que a Difere os marcou muito e que se recordam da sensação de chegarem ao quiosque e terem um novo número à sua espera.

Algumas dessas pessoas ainda conservam exemplares. Outros procuram edições antigas. Há mesmo vários leitores que têm todos os exemplares – eu, infelizmente, não tenho todos.

São já 30 anos de paixão e dinamização do skate em Portugal dos quais me orgulho muito,

apesar de ter ficado anos a trabalhar para pagar investimentos que foram feitos com a revista.

É que além da revista impressa, tínhamos a ambição de lançar um vídeo-magazine que chegou a ser publicado em cassetes VHS e um website.

Antes da Difere, houve um coletivo que lançou uma revista de skate a partir do qual saíram poucos exemplares. Mas ao nível de suportes audiovisuais, de presença na internet com uma página e do envio de uma newsletter regular, fomos pioneiros em Portugal. A Difere ao longo dos anos evoluiu e começou também a abordar tudo o que se relacionava com a cultura do skate como a música, a arte ou a moda.

Em termos de arte, a Difere foi importante para lançar e começar a levar a sério a arte urbana que hoje é muito mais apreciada. Ainda me recordo de uma exposição de arte em Lisboa em que participava de forma modesta o Vhils.

Ele já se destacava, mas era inimaginável o quanto ele ia ter sucesso e, por conseguinte, projetar o nosso país. Também recordo vivamente de ter conhecido nessa ocasião a fotógrafa Martha Cooper que registou como ninguém os primórdios da arte urbana a nível mundial.

No inverno fazíamos alguns artigos de snowboard e também contribuímos para o mesmo em Portugal. É comum existirem Skaters que gostam e também praticam essa modalidade.

Pelo facto de termos alargado os conteúdos editoriais, acabámos por chegar a um público

muito mais alargado e impactar mais.

A Difere na altura tinha o design concebido por uma lenda do design, o Ricardo Mealha, que me procurou para esse efeito. A meu ver, isso contribuiu também para prestigiar a Difere e o skate. Passei de alguém que era, de certa forma, visto como marginal, para alguém que recebia, por exemplo, convites para a comissão de honra do Presidente da República da altura ou para visitar a casa do Primeiro-Ministro.

Antes disso, a revista já impactava e recordo-me perfeitamente da euforia que senti quando

ao folhear uma das mais importantes revistas internacionais de skate, me deparei com uma

entrevista a um Skater Nova Iorquino, que marcou a história do skate mundial, que no final da sua entrevista agradeceu à Toast, em Portugal. Descobri mais tarde que era luso descendente.

Falo do Joaquim Cardona que ainda hoje é ativo no skate e que é conhecido

internacionalmente como Quim Cardona. Recordo-me do seu irmão, que infelizmente faleceu, o Mike Cardona, que tinha também um talento incrível e que foi protagonista de uma das mais icónicas capas de sempre da revista Thrasher.

Há muitas, muitas histórias curiosas e engraçadas. Não irei esquecer quando o Carlão dos Da Weasel, na altura mais conhecido como Pacman, me ligou para anunciar na revista uma loja de skate que ele tinha na altura.

Reconheci de imediato a voz, mas não queria acreditar. Só quando terminou de falar perguntei, pasmado, se era o vocalista dos Da Weasel, pois a voz era-me muito familiar. Deste primeiro contacto e dos encontros seguintes surgiu uma amizade que perdura até hoje com os elementos da banda.

O clássico videoclipe do Sandro G «Eu não vou chorar» que foi retratado na popular série da Netflix sobre Rabo de Peixe, nos Açores foi viabilizado e filmado pelo falecido Skater Nuno Marques com equipamento vídeo da Difere.

Ele era, como dizíamos, um puro do skate. O Nuno foi o responsável pelo vídeo magazine que pioneiramente lançámos e inspirou muita gente.

Além destes reconhecimentos e acontecimentos marcantes, fomos orgulhosamente distinguidos com importantes prémios. Fomos objeto de estudo de algumas das mais

consagradas universidades. Fomos notícia em importantes órgãos de comunicação social nacionais e estrangeiros. Chegámos a figurar em livros, entre outras realizações relevantes que talvez seja exaustivo partilhar.


Orgulho-me por termos contribuído de forma substancial para o desenvolvimento do skate no seu todo, tanto para o dinamismo da sua prática, como a nível da promoção e comunicação de marcas e lojas. Também contribuímos para a promoção do snowboard, da arte urbana e para a divulgação de músicos associados ao espírito do skate.


Site Nacional de Skate: Como vês o skate hoje em dia comparativamente com o passado?


Artur: Tive a felicidade de viver e testemunhar o progresso. Acho fantástico o nível dos nossos Skaters atuais que, como todos sabemos, têm merecido reconhecimento internacional. Acho também positivo que as novas gerações deem continuidade e se interessem pelo skate.

Contudo, confesso que me entristece o facto de o skate se ter tornado uma “moda” e que haja mesmo uma certa “futebolização” do mesmo. Como dizem alguns Skaters, talvez tenhamos de tornar o skate novamente um bonito “crime”.


Site Nacional de Skate: Achas importante que o Site Nacional de Skate seja um sítio de referência onde todos os Skaters “anónimos” possam fazer ouvir a sua voz? Porquê?


Artur: Nutro um imenso respeito pela consistência do trabalho que desempenham ao longo de tantos anos. Elogio e admiro a vossa imparcialidade e o facto de serem um projeto

literalmente de Skaters para Skaters. É de facto um projeto louvável, sobretudo numa altura

em que assistimos a um aproveitamento por um número grande dos denominados

“paraquedistas”, ou seja, pessoas que nunca sequer andaram de skate.


Site Nacional de Skate: Últimas palavras.


Artur: A partir de fevereiro do próximo ano, terei disponibilidade para aceder ao armazém onde guardo as edições da Difere, e terei todo o gosto em oferecer a quem o desejar exemplares que eu tenha repetidos. Basta manifestarem interesse por mensagem através das redes sociais onde marco presença @ArturCasaca: Facebook, Instagram, LinkedIn ou X. Nessa altura, espero também partilhar alguns conteúdos.

Gostava sobretudo que tivessem presente que “Skate é skate”. Quero com isto apelar a que

mantenham a sua identidade e alma únicas, a sua cultura singular, promovam a amizade e o convívio e não permitam que pessoas que nem andam de skate tomem posições relevantes e infrutíferas em organizações do mesmo.

Agradeço ao Site Nacional de Skate, que admiro e respeito, o convite e a honra de partilhar

estes momentos históricos que me fizeram viajar no tempo, não só do skate. Faço votos para que mantenham a sua independência e que cresçam muito mais. Bem hajam.


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Site Nacional de Skate a noticiar a atualidade de todas as modalidades de skateboarding desde 1994.


1 Comment


goncaloferreirax
Nov 23, 2023

Top!! sempre foi assim que te conheci, grande abraço

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